quinta-feira, 12 de abril de 2012

SER JOVEM NO BRASIL: UMA QUESTÃO DE ENFRENTAR INCOMPREENSÃO E CONVIVER COM DESIGUALDADES.


    


    A fase da adolescência é vista por diversos estudiosos e especialistas como em transformação constante, principalmente no desenvolvimento físico, psicológico, biológico, cognição, social e em termos da maturação da personalidade, caráter, identidade e subjetividades inerentes a cada indivíduo. É uma fase da vida marcada por inconstâncias, dúvidas e muitos anseios quanto ao futuro e ao desconhecido. É também uma etapa entre a infância e a vida adulta. Geralmente a adolescência é associada com a puberdade, e as referências de transformações já citadas, sobretudo as de ordem sexual e fisiológicas. De acordo com Aberastury (1981) o adolescente sente a necessidade de afirmação perante o meio social, por meio de sua identidade e ideologias e clama por uma liberdade vigiada e com limites:


Toda a adolescência tem, além da característica individual, as características do meio cultural, social e histórico desde o qual se manifesta, e o mundo em que vivemos nos exige mais do que nunca a busca do exercício da liberdade sem a violência para restringi-la (Aberastury, 1981, p.22).
         
   
   Porém,  segundo Knobel (1981), ressalta como condicionantes, os aspectos relacionados ao social e ao cultural na adolescência, de tal maneira que podem ser praticamente universais:




A etapa da vida durante a qual o indivíduo procura estabelecer sua identidade adulta, apoiando-se nas primeiras relações objeto-parental internalizada e verificando a realidade que o meio social lhe oferece, mediante o uso dos elementos biofísicos em desenvolvimento á sua disposição e que por sua vez tendem á estabilidade da personalidade num plano genital, o que só possível quando consegue o luto pela identidade infantil. (Knobel, 1981, p.26).
      

        Este mesmo autor, ainda descreve algumas peculiaridades típicas da adolescência:


Busca de si mesmo e da identidade; tendência grupal; necessidade de intelectualizar e fantasiar; crises religiosas, que podem ir desde o ateísmo até o misticismo mais fervoroso descolarização temporal, onde o pensamento adquire as características de pensamento primário; evolução sexual manifesta, que vai do autoerotismo até a heterossexualidade genital adulta; atitude social reivindicatória com tendência anti ou associais, de diversa intensidade contradições sucessivas em todas as manifestações da conduta, dominada pela ação e constitui a forma de expressão conceitual mais típica deste período da vida; na separação progressiva dos pais; e constantes flutuações do humor e do estado de ânimo (p.29).

       E é nesse contexto marcado por muitas características, que a juventude torna-se fragilizada se não houver um acompanhamento por parte da família, do Estado, dos seus responsáveis e pela sociedade. No Brasil, a Constituição Federal de 1988, por meio do artigo 227, defende esta articulação virtuosa entre tais atores. Ainda sim, é notado, jovens e adolescentes em situação de vulnerabilidade social de maneira crescente.  Envolvidos no cometimento de atos infracionais diversos, o que prova que o Brasil ainda precisa avançar no seu tratamento Estatal e de assistência social e psicológica aos jovens e as suas famílias.

        Além desse cuidado mais específico com a juventude, reconhecer seus direitos e participação é fundamental para construir um caminho do diálogo e de prioridades de prevenção a problemas que os afetam diretamente.

        A realidade brasileira, no entanto, é bastante complexa e contraditória em relação às questões juvenis. As políticas públicas, por exemplo, ainda não priorizam as demandas necessárias e quando realizadas não atendem ao público programado, ou ainda, o efeito de suas benesses é pouco notado. O Estado precisa se atentar quanto a esse tipo de demanda, pois é essencial em histórias individuais dos jovens, em destaque para as de prevenção do submundo do crime e as que ajudam no auxílio à profissionalização e a prática de esportes.

          Por isso, ser jovem no Brasil é antes de tudo um desafio, primeiro por ter de enfrentar a falta de espaço e voz na sociedade, além de incompreensões relativas ao seu período de vida e a sua realidade social. E segundo por ter que lidar com as diversas desigualdades sociais existentes. Isso é verificado no não acesso igualitário a educação, a saúde, ao direito de moradia com dignidade, as oportunidades de profissionalização, de lazer, acesso a cultura e outros mais. Então, é possível deduzir, a existência de muitas juventudes num só país, algo prejudicial para o desenvolvimento, pois não prioriza seu alicerce numa construção de futuro. Portanto a prevenção é a único meio de auxiliar a juventude frente as mais diversas vulnerabilidades que estão expostas. Segundo ressalta Gomes (2004):
                                                             
 [...] dentre as características mais importantes dessa política econômica liberal destacam-se o individualismo, o consumismo, a alta taxa de desemprego, forte exclusão social, marginalização de grande parcela da população, ausência de políticas públicas na área da educação, saúde, lazer, etc. Parece não haver dúvida que todos esses fatores influenciam decisivamente na criminalidade urbana [...] o jovem consegue superar duas ou três dessas características negativas, mais que isso, seu ingresso na via criminosa é quase inevitável [...].

    Num cenário como descrito por Gomes (2004) é complexo vislumbrar mudanças significativas ao público jovem, e este quadro reforça infelizmente, as dificuldades de ser um jovem no Brasil e ter seu respeito consolidado. Para tanto, cabe ao Estado modificar esta realidade. É bem evidente que mudanças de níveis sociais citados são paulatinas, mas incorporar esta responsabilidade é também zelar pela cidadania, pela participação política, pelo acesso ao direito negado e por uma consolidação de progresso. É válido pontuar a importância de preservar e prevenir com eficácia e eficiência a problemática da delinquência juvenil, tão comum na sociedade brasileira e pelo visto pouco combatido, mesmo com a vigência da legislação que assegura os adolescentes, tanto a âmbito nacional quanto ao internacional.

    Na prática ocorre é a vinculação da imagem do jovem visto como um portador de problemáticas sociais, como bem descreve Abramo (1997):

A tematização da juventude pela ótica do ―problema social é histórica e já foi assinalada por muitos autores: a juventude só se torna objeto de atenção enquanto representa uma ameaça de ruptura com a continuidade social: ameaça para si própria ou para a sociedade. Seja porque o indivíduo jovem se desvia do seu caminho em direção à integração social — por problemas localizados no próprio indivíduo ou nas instituições encarregadas de sua socialização ou ainda por anomalia do próprio sistema social —, seja porque um grupo ou movimento juvenil propõem ou produz transformações na ordem social ou ainda porque uma geração ameace romper com a transmissão da herança cultural.

    Esta vinculação enquanto recorrente é bastante negativista e ultrapassada, pois inibi o processo de mudanças de um Estado que não prioriza a juventude como potencialidade participativa e sujeitos de direitos.
   
     A guisa de conclusão é valioso salientar a vital função do seio familiar para lidar com as inquietudes juvenis frente ao cenário brasileiro de desigualdades e incompreensões variadas, conjuntamente com os meios social, religioso, de auxílio psicológico, aos profissionais que lidam com os jovens, educadores, professores, profissionais da pastoral juvenil que auxiliem um caminho de compreensão da realidade e de questionamentos as suas causas.

   A posição do Estado é também meio de solucionar muitos dos problemas e dar mais visibilidade aos jovens e ao crescimento em diversas áreas. Bem como uma ativa participação da sociedade em acompanhar o universo juvenil em especial, como forma de garantir uma nova mentalidade para as próximas gerações.  


                                 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
 ABERASTURY, Arminda. O adolescente e a liberdade. In: ABERASTURY, Arminda & KNOBEL, Maurício. Adolescência normal: Um enfoque psicanalítico. Porto Alegre:
Artes Médicas, 1981. Cap. 1. p. 13-29.

Abramo, Helena Wendel. Considerações sobre a Tematização Social da Juventude no Brasil. [Periódico]. - São Paulo. Departamento de Sociologia da USP. : [s.n.], 1997

GOMES, Luis Flávio. Neoliberalismo, Urbanização desordenada e Miséria =Criminalidade e Violência. Disponível em http://www.proomnis.com.br/publique_html/article. php?store=20040705160644153.  Acesso em: 27/ 03/2012. 





Texto de autoria da colaboradora do blog, Isabôhr Mizza, sobre as questões das desigualdades do universo jovem presentes no Brasil. 

2 comentários:

  1. A questão das desigualdades a que estão submetidos os jovens no Brasil é de grande relevância no debate das políticas públicas para a juventude.
    Essas desigualdades são observadas em diversos aspectos, são desigualdades regionais, onde historicamente as regiões Norte e Nordeste são mais desfavorecidas e vulneráveis, desigualdades em relação à juventude urbana e do campo e até mesmo as dos bairros nobres e da periferia.
    Há muito o que se fazer, pois até mesmo o acesso à informação e as mídias sociais ainda não é universal.
    abraço.

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  2. Infelizmente, é a realidade brasileira, camuflada pelas autoridades. Acreditamos que a diminuição dessas desigualdades seria uma chave de sucesso para o desenvolvimento das juventudes, bem como evidenciar suas potencialidades individuais e de atuação expressiva no país. O acesso a informação é imprescindível para a inclusão, bem como acesso as mídias sociais. Obrigada pela contribuição!

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